Lógica Paraconsistente no es Psicosis...


Uma das primeiras vezes que tentei fazer conferência sobre lógica
paraconsistente numa universidade brasileira, sugeriram-me que o melhor
seria não pronunciá-la, para não comprometer minha carreira! Acho que foi
em 53, em Curitiba. Havia um padre, que prezo muito, que me disse: "Olha,acho melhor você cancelar a conferência, porque tenho a absoluta certeza de
que você está ficando psicótico. Um indivíduo que vem me dizer que vai
derrogar o princípio da não contradição tem que ser maluco". E não foi só
isso. Anos depois, um professor amigo meu convidou-me para fazer uma
conferência numa das melhores universidades brasileiras, no Departamento de
Matemática. Eu fui todo alegre, pensando: "Bem, pelo menos talvez num
grande centro eles me ouçam". No dia da conferência, o professor me
procurou muito sem jeito: "Lamentavelmente, não vai haver conferência; ela
foi cancelada". "Mas como, cancelada porquê?" Ele ficou ainda mais sem jeito,
não queria dizer, mas depois desabafou: "Meus colegas acham que não é
possível uma lógica que não exclua contradições. Ou seja, não é possível uma
teoria com contradições. Tudo isso não tem sentido, só um ignorante ou louco
pode pensar nisso". Sistematicamente, durante vários anos, fui taxado de
egocêntrico.

(...)

Estou falando do discurso analítico como 
este interplay lingüístico que há entre o paciente e o analista. Nesse discurso, 
se a pessoa, por exemplo, descreve seus sonhos, começa a fazer associações, 
a falar, é evidente que há contradições; além disso, esse discurso é 
incompleto, e às vezes derroga outros princípios da lógica. Porém, há uma 
lógica subjacente. Repito, essa lógica não esgota tudo, e não vai ser a lógica 
matemática que vai curar todas as enfermidades do mundo, mas ajuda. E 
acho também que na teoria psicanalítica - esse é um problema que não tenho 
meios para resolver no momento, nem conhecimento - talvez haja uma lógica 
subjacente, uma lógica da teoria analítica, que pode ser que seja a clássica, 
embora eu tenha minhas dúvidas a esse respeito. Se compreendi Lacan, tal 
lógica seria não-clássica. Mas, seguramente, a lógica do inconsciente, ou a 
lógica que se manifesta nesse interplay entre o paciente e o analista, essa 
lógica informal pode ser formalizada por algum tipo de lógica 
paraconsistente.

Newton da Costa
[Curitiba, 1929]

Entrevista Concedida a Oscar Angel Cesarotto & Márcio Peter de Souza Leite
[ Extracto ]

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